Uma candidatura em poucas palavras


Essa mania de pensar sobre tudo, eu sei, me torna uma pessoa enfadonha , no entanto , não consegui resistir à tentação de compartilhar a experiência que vivi como candidato a vereador  pelo PSOL em Cabo Frio.
Desde que fui recebido pelo partido, passei a admirar disposição dos companheiros diante do quadro político local. O assédio dos candidatos poderosos, que tinham certeza que a liderança do PSOL se curvaria diante das promessas de boquinha assustaram. Mas dizem que na política isso é normal. Normal nada! É normose! É doença da normalidade. Por outro lado, o firme posicionamento do Cláudio, conquistou a minha confiança. E o caráter das propostas do partido, profundamente identificado com as minhas, a minha militância.



Na fase de pré-candidatura, quando falava da minha pretensão de ser candidato, muitos reagiram dizendo que eu não tinha dinheiro. Que eu não teria a menor chance e que eu não conseguiria, nem cinquenta votos. Muitos colegas, detentores de portarias e outras bocadas se afastaram e a minha presença os constrangia.  Eu entendo, não se pode cobrar ideologia e nem impor suas verdades a ninguém. Além do mais, eu sempre disse aos mais próximos que a minha candidatura tinha um caráter didático. E guardo a certeza de que foi, tanto pra mim, quanto para os outros.
Durante esse ano eu aprendi de forma contundente o preço da fidelidade aos ideais. Tive que segurar meu ímpeto contestador diante dos colegas que se recusaram silenciosamente a colocar meu adesivo, simplesmente para não melindrar os “poderosos” e inviabilizar futuras bocadas. E precisei compreender aqueles que não puderam colocar uma das placas que mandei fazer porque precisavam do dinheiro que outros candidatos ofereceram para colocar as suas. Ainda sobre os esclarecidos acomodados e os esclarecidos necessitados, afirmo, com os ânimos pacificados que os primeiros, hoje, merecem o meu resguardo e os segundos, a continuação da minha luta para libertá-los desse estado de dependência criado com a cumplicidade dos primeiros. Quem toma partido conquista adversários, mas quem se anula vive sem honra,vagando inebriado pelas suas ambições horizontais. Os conscientes sabem que os candidatos ligados à máquina, tanto prefeitos como vereadores, não poderão legislar para o povo porque possuem o rabo preso. Assim sendo, mesmo cientes da sua responsabilidade cidadã, se colocaram ao lado dos candidatos da máquina. Por que? Porque almejavam manter ou conseguir vantagens pessoais. Desprezível atitude, mas justificada pela cultura do “quero me dar bem” transmitida geração após geração.
No dia das eleições, como não contávamos com gente suficiente para constituirmos fiscais de partido, circulamos pela cidade na companhia do candidato a prefeito Cláudio Leitão. Foi uma lição prática do nível de ignorância da população no que tange à importância daquele momento. Na periferia, fomos abordados por pessoas que se diziam indecisas e logo em seguida ofereciam seus votos em troca de dinheiro. Foi lamentável presenciar na prática a tão conhecida alienação e miséria moral da população. Nos esquivávamos de todas as maneiras desse tipo de assédio, sendo forçados inclusive, a deixarmos rapidamente alguns bairros.
Se por um lado muita gente próxima, não me apoiou, por outro recebi o apoio de pessoas com as quais eu nunca imaginei contar. E não falo de dinheiro, mas sim de disponibilidade para ajudar a compartilhar nossos ideias, de apoio moral e da declaração do voto.
Saio dessa candidatura surpreso com o forte apelo que ela teve diante dos mais esclarecidos e convencido de que o trabalho de saneamento da concepção política das camadas populares é uma tarefa hercúlea e ingrata dado o grau de pobreza da maioria e pelo fato de que muitos dela se beneficiam.
Gostaria de explicitar a minha surpresa ao presenciar candidatos derrotados dando entrevista e deixando transparecer uma ponta de indignação por não terem sido eleitos mesmo depois de terem implementado “projetos sociais”. E mais: culpando a compra de votos no dia das eleições por suas derrotas. Ora meus amigos, “ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão”. Tanto o assistencialismo, quando a compra direta de votos,são formas de oprimir o eleitorado. Mas como gosta de dizer a minha esposa: “Só existe opressor, porque o oprimido permite.” E no caso em questão, não só permitem como também confirmam. Por fim, gostaria de dizer aos opressores e aos seus cúmplices que estamos aqui, de pé e dispostos aos enfretamentos necessários.  E aos oprimidos, que ainda acreditamos com todas as forças que “nada, nada deve parecer natural e impossível de mudar.”


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