O grito abafado na sala dos professores
O grito abafado da
sala dos professores
As
chamadas Jornadas de junho, aquele ensaio de mobilização que levou os acordados
para a rua , embora tenha arrefecido no que tange à mobilização, plasmou na
nossa atmosfera um quê de transformação,
de esperança e de desejo de renovação. Mas e o Magistério? O professorado? De
que forma tem se colocado nesse panorama de transformação?
A
estrutura organizacional sobre a qual se assenta a escola , com a sua
hierarquia tradicional ainda imprime
sobre alguns colegas uma certa pressão. Eles vêm seus diretores e demais
integrantes da equipe técnica e administrativa, não como colegas que ali estão
para servir à comunidade escolar , mas sim como um chefe, detentor do poder de
infernizar a sua vida caso não reze a cartilha. Por sua vez algumas direções, muitas
sem autonomia encaram os integrantes das secretárias , não como colaboradores,
mas como opressores que ali estão para julgar e condenar o tempo todo.
Muitos
colegas não saem da zona de conforto. Alguns concursados não fazem greve porque
cresceram corrompidos pelo senso comum, acreditando que ela de nada adianta.
Inclusive as tímidas conquistas dos professores do Estado do Rio de Janeiro
nessa última greve, apesar da luta aguerrida de bravos colegas e de uma
considerável adesão, reforçam a ideia de fraqueza da categoria. E os
contratados? Oprimidos, podem se dispor a encarar a possibilidade de perder o
meio de sobrevivência. E apesar da compreensão sobre esta questão, não podemos
deixar de pensar como isso apraz a quem os contrata.
Como podemos compor uma categoria forte se a maioria
dos profissionais que a compõe e que
podem lutar se omitem?
No
cotidiano das nossas escolas sobram problemas, mas parece que a solução desses
problemas é problemas dos outros. E essa distorção é o reflexo da maneira com
qual exercemos a nossa cidadania. A escola reproduz o "Não tenho nada a
ver com isso." que sabota a construção de uma sociedade mais justa. Criou-se a cultura de partilhar vitórias, mas não as lutas; de
se apoderar das conquistas, mas não do processos que a ensejam.
O
poder de formar opiniões e de encantar
que cada professor traz consigo parece ter dado lugar ao desencanto. Não
é para menos. A sensação de solidão que grassa cada escola e o coração dos profissionais da educação faz
diariamente o chão sumir sobre os nossos pés. Mas haverá sucesso numa Educação
que transmite a desesperança?
Existem alguns colegas infelizes porque seus
líderes políticos foram derrotados, outros porque incapazes de acreditar na Educação e sem coragem para dar uma novo
rumo às suas vidas , se deixam levar pelas repetidas ladainhas derrotistas e
infrutíferas, propagando o "não tem jeito não". Mas existem muitos
que embora militem e coloquem a cara na reta, entendem que agregar valor aos
conteúdos da sua disciplina pode ajudar a minimizar os efeitos da
desvalorização profissional que nos é imposta. Na verdade utilizam os conteúdos
para promover a cidadania encontrando um oásis de satisfação nesse deserto de
possibilidades que tem sido para tantos a Educação. Mas a sensação de solidão destes
é ainda maior. Porque de uma certa forma
acredita-se que se pode ser feliz nessa profissão quantificando e relacionando
totalmente a prática às condições de trabalho. Isso me faz pensar num outro
tipo de personalidade presente no magistério: os eternos insatisfeitos. Aqueles
para quem a vida perderia o sentido se o magistério alcançasse a excelência em
todos os sentidos.
A
grande ironia disso tudo é que o professor é o agente mais poderoso dentro do
sistema.E a sua despolitização é mãe desta ironia. Professores unidos, cientes
do seu poder tudo podem. A nossa presença na escola pode ser carregada de simbolismo positivo e de
valor revolucionário. Temos os conteúdos, temos a massa, enfim, temos poder. Somos as respostas para os
questionamentos que todos os dias insistem em tentar nos paralisar. Tudo
podemos , mas para isso precisamos romper o silêncio institucional e nos tornarmos
agentes de transformação. Caso contrário, a nossa saúde e nosso discurso se esvairá
pouco a pouco nos gritos cotidianos abafados
na sala dos professores.
A minha maior tristeza é saber que um dos sonhos e funções dos professores é transmitir ânimo, energia, esperança de mudança e não conseguimos mais disfarçar que isso nos foi roubado. Está engasgada a desmotivação que não apenas o Poder Público, mas a população de uma forma geral, nos proporciona. Será necessária muita luta pessoal, política e moral, para que o professor retome a sua verdadeira função, que está longe de ser apenas transmissão de conteúdo.
ResponderExcluirObrigado pela participação Ana!
ResponderExcluir