Eu e a "falta de Deus"
Recentemente uma conhecida que me é muito cara me
ligou para saber de mim e aproveitou para dizer que a minha já curada
enfermidade coronariana provavelmente era falta de Deus. No eterno segundo em
que levei para encerrar a conversa e
me despedir cordialmente alegando outros afazeres no meu também eterno repouso
, me veio pronta esta manifestação do meu ponto de vista acerca desta questão.
Provavelmente o deus que em sua limitada visão me
faltava era o deus hebreu , que herdamos com o Cristianismo após o imperador
romano Constantino tê-lo permitido como culto(313 d.C) e Teodósio decretá-lo a religião oficial do Império
Romano (391 d.C.). Mas será que se a minha amiga tivesse nascido e sido criada
em um país muçulmano , seria o cristianismo a "VERDADE" que tentaria
me impor? E se fosse indiana? Tibetana? E se tivesse sido criada sobre os
preceitos do Candomblé? E se fosse seu lar, espírita?
Logo pensei na xenofobia que caracterizou os
hebreus na antiguidade e ainda se
manifesta em muitas congregações que
examinam o Velho Testamento de forma alegórica.O que dizer?
Adianta o embate? Adianta dizer que me sinto
intelectualmente emancipado e que esta concepção de Deus
que cabe em uma edificação, em uma cultura não me seduz?
Que desprezo com toda força da minha alma a ideia
comercial que se faz hoje de uma conversão religiosa. Onde os bens
materiais, a saúde e até a felicidade são recompensas para os que se convertem.
Compreendo, no entanto, esse fenômeno humano chamado "fé". Compreendo por
tê-la de uma forma livre e sublime, mas respeito e defendo todos aqueles que
submetem a sua à esta ou àquela religião. Só não comungo com a intolerância, com
essa ideia pessoal de Deus. Como se fosse um gênio da lâmpada que se pode
evocar a qualquer momento para pedir, pedir, pedir e para servir de capataz
contra o mal que geralmente nós mesmos provocamos.
Não vou entrar no mérito das conversões, dos
caminhos do amor e da dor que fazem os mais céticos e endurecidos corações
abraçar uma religião. Possuo um profundo
respeito pelas dores humanas, sei que as nossas estruturas psíquicas sofrem
profundas alterações após traumas físicos e emocionais, mas é muito importante
que possamos exercitar a humildade e a
razão para que a fé não se torne um
instrumento superficial e inconsistente que só serve à arrogância e à empáfia.E
não devemos afastar a teoria da prática,
uma vez que melhor forma de transmitir
valores é o exemplo.
Por fim , considero sinceramente que para aqueles
que seguem uma determinada religião,
controlar o proselitismo(este dedo indicador que aponta a heresia aqui e acolá)
é um ato de tolerância, de compreensão e de caridade. E por falar em caridade,
se tem algo no qual eu creio é que "fora da caridade, não há salvação".
Cada um na sua fé então, eleve seu pensamento .
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