Um olhar sociológico sobre Búzios


Lidar com a Educação em Búzios é uma experiência fascinante.Como professor de História, me perco entre conjecturas e verdades relativas a cerca do cotidiano buziano.
A vocação turística do município produz um quadro social riquíssimo em elementos que dialogam e contrastam entre si, conferindo ao lugar um exotismo social ímpar. A exposição direta dos moradores de Búzios às “emanações” culturais de várias partes do Brasil e do mundo, promove o encontro constante e inusitado entre realidades diversas, onde a tradição e o deslocamento identitário atuam intensamente.
Mas e a cultura local ? E o seu pano de fundo nacional que nos identifica enquanto povo? Como se insere neste contexto? De acordo com o teórico cultural Stuart Hall “À medida que as culturais nacionais tornam-se mais expostas a influências externas, é difícil conservar as identidades culturais intactas ou impedir que elas se tornem enfraquecidas através do bombardeamento e da infiltração cultural”(Hall, 1996). Assim sendo, diante da nossa estrutural tendência ao estrangeirismo, é compreensível que os elementos culturais exógenos sejam facilmente assimilados. Contudo devemos considerar, para não incorrer em erro, que tal assimilação varia de acordo com a localização social do indivíduo; não por capacidade cognitiva, mas por uma questão de identificação de valores e até mesmo de consumo.
De acordo com Lacan, a nossa identidade é formada ao longo dos anos, resultando da nossa convivência com o meio em que estamos inseridos. A partir daí podemos esperar que identidade cultural, que seria o resultado da intercomunicação dos valores individuais compartilhados, também possua esta flexibilidade.
O deslocamento da identidade buziana tradiconal, entendendo-a como aquela subordinada unicamente ao contexto brasileiro, tem produzido fenômenos sociais interessantes no ideário local. Diante do “novo”, que chega a Búzios, seja através do turismo/migração, seja através da mídia, a população local apresenta comportamentos antagônicos, porém previsíveis pelos teóricos que estudam a concepção de “aldeia global” a partir da qual percebem o planeta.
Podemos perceber que as reações variam entre a aceitação passiva/irreflexiva e a organização de entidades de resgate e defesa das minorias bem como das tradições culturais nacionais. A previsibilidade de tais reflexos, justifica-se pelos interesses pessoais ou dos grupos sociais locais. A preservação, o esquecimento ou a convivência dos elementos culturais distintos é uma questão política, mas não de política partidária e sim daquela concepção de política que a torna inerente a todas as relações humanas.
Não podemos deixar de considerar a força da presença da mídia enquanto agente formador cultural de opinião, ditando regras comportamentais aos desavisados, solapando as resistências, destruindo e reconstruindo verdades que aceitamos de bom grado, muitas vezes gratos, por termos quem pense por nós. No processo de preservação da memória, a mídia ocupa uma posição de destaque pelo seu poder de alcance, no entanto, caso seja o seu objetivo, seu poder desagregador também pode ser descomunal.
Com certeza todo processo de preservação cultural serpenteia por entre as instituições civis cada qual com as suas especificidades e contribuições para a construção de um legado futuro daquilo que chamamos respeitosamente de passado. Neste quadro a escola merece destaque, uma vez que é um mecanismo de reprodução (quiçá de produção) ideológica de grande poder de persuasão, embora sua eficácia esteja relacionada à formação profissional e pessoal dos seus agentes. De qualquer modo, a extensão da abordagem da história local em consonância com os PCNs, é fundamental para que possamos pensar a escola como um pólo difusor de cidadania, principalmente na Armação dos Búzios, para que de posse da nossa identidade cultural, possamos pensar na construção dos nossos “citizens of the world”.

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