Você!
O mundo é desigual. E isso
não é novidade há pelo menos cerca de 10 mil anos, quando surgiram as primeiras
sociedades complexas. Sociedades complexas seriam aquelas onde existem desigualdades
sociais profundas, como a nossa. Antes, todos os grupos humanos do planeta,
viviam tal qual os nossos índios na fase anterior à contaminação do dito mundo
civilizado. A única forma de divisão de
trabalho era a sexual, na qual homens e mulheres possuíam atribuições
distintas.
Com o surgimento da
propriedade privada dos meios de produção e o desenvolvimento das forças
produtivas, a humanidade se especializou na prática da exploração do homem pelo
homem, utilizando a criatividade que lhe é peculiar para desenvolver métodos e
justificativas incontáveis. No séc. XIX, quando o socialismo científico ou marxismo
surgiu como forma de resistência à exploração capitalista, identificando
burgueses e proletários na chamada luta de classes, ninguém imaginou que
décadas mais tarde as ideias de Marx, pudessem inspirar um movimento
revolucionário que culminou com a implantação do socialismo e à reboque, a criação da União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas.
A partir daí, grande parte
dos fatos que ilustraram o século XX podem ser considerados desdobramentos do
duelo entre capitalistas a socialistas conhecido como Guerra Fria e pai do
desenvolvimento tecnológico que a segunda metade do século XX viu se
aprofundar. Até que por fim, os capitalistas, donos da mídia, lançaram o factóide
mundial da morte do comunismo e triunfo do capitalismo justificado pelo advento
do neoliberalismo.
Essa viagem medíocre e
superficial que me veio à cabeça nesse amanhecer que para mim começou antes
mesmo do nascer do Sol desse dia 23 de janeiro, não tem outra pretensão a não
ser convidar você que está se dando ao
trabalho de ler estas palavras à uma reflexão: Seria possível minimizarmos hoje
o grau de degeneração social na qual nos encontramos?
O surgimento da civilização
está totalmente ligado ao aparecimento do Estado que na sua definição simples
seria um conjunto administrativo formado por governo, povo, exército,
funcionários, território, leis e impostos. Ao longo do tempo muitos pensadores
se dedicaram ao estudo do Estado de Aristóteles à Rousseau, analisando sobre
tudo a ligação da interdependência entre o governo e o cidadão. Aqui queremos
apenas levantar a seguinte questão: até que ponto a degeneração do Estado é
causa ou conseqüência da degeneração do indivíduo enquanto cidadão?
A maior dificuldade de se
transformar a sociedade em um espaço justo e igualitário passa pela crença de
que qualquer tipo de mobilização atualmente seria infrutífera. Esse pensamento
difundido pela mídia cúmplice da apropriação do Estado pelos interesses
privados é transmitido de forma tão sutil e eficaz, que toda vez que um grupo
de pessoas se reúne em torno de um ideal de transformação dessa realidade, o mesmo
é visto como dissidente, destoante ou desajustado. Na sua individualidade, eu
tenho certeza que você gostaria de que a
nossa cidade , o nosso estado e o nosso
país se tornassem lugares mais prósperos e que essa prosperidade fosse compartilhada
pela maioria, mas a sua capacidade de mobilização e de aglutinação esbarra na
falta de fé no próximo. Dessa forma, a responsabilidade da mudança é transferida
para o outro. “Não dará certo por que o povo é corrupto. ”Não dará certo porque
os políticos são todos iguais.” “ O Brasil não tem jeito” e por aí vai.
Afirmo com certeza também, que quando você é questionado
acerca da sua honestidade, a reação é de indignação. Você é honesto, mas os
outros não prestam. Então porque você não coloca as suas virtudes a serviço da
coletividade?
Marx estudou a História e
descobriu que as desigualdades são fruto do surgimento da propriedade privada
dos meios de produção, quando no passado alguns
grupos se apropriaram sobretudo das terras produtivas. Antes disso, o
fruto do trabalho coletivo era compartilhado igualmente entre os membros das comunidades.
Era o comunismo primitivo, que hoje seria incompatível com a civilização. Mas, no
entanto, o mundo civilizado pressupõe um individualismo sem igual que vai de
encontro à própria idéia de humanidade ideal. Evoluímos tecnologicamente, mas
perdemos em alguma esquina do passado a ideia
de grupo, de bando e estamos seguindo, independente dos” ismos” para um colapso
humano irracional e o que é pior, consentido e protagonizado por você, que
insiste em deixar de seguir o ideal de igualdade que trazemos como herança
desde que tomamos consciência de nós mesmos enquanto espécie há milhões de
anos, para se conformar com a tão recente ideia de que existem humanos que merecem subverter, dominar e explorar
humanos. A única solução possível para a construção de uma sociedade melhor é
também a razão da existência da mesma: você.
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