Um olhar sociológico sobre o SUS
Desde a criação do Ministério da Saúde e
Educação em 1930 até 1988, somente os trabalhadores com carteira assinada
tinham direito à assistência médica. A democratização do acesso à saúde data da
Constituição Federal de 05 de outubro de 1988, quando a saúde passou a ser um
“direito de todos e um dever do Estado”. Nascia o Sistema único de Saúde.
Inspirado
nos modelos da medicina social de alguns países europeus como a França e a
Inglaterra, o SUS tem como princípios básicos a integralidade, a equidade e a universalidade.
Seria universal, ao garantir a todos o acesso aos seus serviços. Igualitário ao
primar pela igualdade de condições de tratamento dos seus usuários. E por fim,
integral, ao abranger medidas de prevenção, atendimento e internação. Acontece
que na cultura do clientelismo brasileiro, onde as leis são contextuais (depende
do contexto) e não contratuais (vale o que está escrito), a realidade é outra.
Por que? Porque embora ouçamos falar em Políticas Públicas de Saúde, estas se
encontram vinculadas a uma prática comum na nossa sociedade: o patrimonialismo.
De acordo com o sociólogo Bernard Sorj(2001),
patrimonialismo é o controle de determinado segmento da esfera pública por
grupos privados organizados que manipulam a máquina estatal em prol dos seus
interesses. Teoria da conspiração? Não. Experiência consciente e elucidativa
nas baixas camadas da sociedade.
A
idealização do SUS previa também uma divisão de responsabilidades entre os
poderes públicos e uma aproximação gestão/usuário que não acontecem. Além
disso, temos gestores profissionais de
outras áreas e usuários incapazes de exercerem o papel que lhes cabe no tão
necessário controle social. O conselho de saúde está aí, mas e nós enquanto
razão de ser do Estado , estamos? Esta análise nos remete ao músico e filósofo
iluminista Jean Jacques Rousseau que ao nos legar sua concepção do Contrato
Social, afirma que este surge da
associação e não da submissão dos homens. Para pensador o papel do estado é
zelar pelo bem comum, o que coloca o homem como um beneficiário do Estado.
Hoje em dia
corremos risco de parecermos utópicos ao evocamos a participação da sociedade,
mesmo quando o que está em jogo é a dignidade da mesma. No desfiar das queixas
sem eco que compõem o cotidiano, somos compelidos ao senso comum, à falta de
fé, ao conformismo e ao deslocamento da culpa para o governo e suas leis que,
teoricamente, são a manifestação da nossa vontade. E enquanto alguns pagam duas vezes pelos
direitos que têm, cá estamos nós alimentando os nossos Planos: de uma real
democracia e de não adoecer.
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